A práxis musical Grega no seu sentido teórico e prático, se fala pouco. Isto acontece porque restou escassa documentação, como partituras e tratados teóricos de música. Contudo, a importância da música na Grécia, está representada em suas lendas e em sua história.
A música em si pelo pouco que resta dela – sete canções e alguns fragmentos – parece um tanto rudimentar. Pobre em instrumento musical, que com poucas variações, foram então todos reduzidos a dois tipos. Um instrumento de sopro – o Aulo – e o outro, um instrumento de cordas – A Lira.
Não existia ainda uma noção harmônica, a melodia era conduzida com pequenas variações de intervalos, com frequentes retornos a nota central. A vivacidade do ritmo é escassa, estritamente ligado à recitação e seguindo os esquemas métricos da poesia.
O elemento principal da música era o tetracorde (grupo de quatro notas), geralmente usados em dois grupos iguais, geralmente tocados na forma descendente. Contudo, havia três tipos de tetracordes: o diatônico, cromático e o enarmônico.
Os diferentes grupos de notas, nos tetracordes diatônicos eram classificados e nomeados por modos. Assim, havia inicialmente, nove modos diferentes: lídio, frígio, dórico, e seus derivados, ipolidio e iperlidio; ipofrigio e iperfrigio; ipodórico e iperdórico.
Modos gregorianos
A princípio, se faz muita confusão entre os modos gregos e os modos gregorianos. Contudo, esses últimos foram organizados pelo Papa Gregório Magno já na alta idade média entre os anos de 590 e 604.
O Papa Gregório catalogou os cantos litúrgicos e um livro chamado Antifonário. No entanto, essa forma de organização deu origem ao canto gregoriano. Assim, o sistema desse canto é modal e de maneira ascendente se diferenciando dos modos gregos anteriores. Porém, em parte, a nomenclatura se conservou.
Os modos gregorianos são: jônio, dórico. Frígio, lídio, mixolídio, eólio e lócrio. Para melhor compreender, podemos pensar os modos, como inversões, de uma escala diatônica maior:
Modo jônio ( escala maior): DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ, SI, DÓ
Modo dórico: RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ, SI, DÓ, RÉ
Modo frígio: MI, FÁ, SOL, LÁ, SI, DÓ, RÉ, MI
Modo lídio: FÁ, SOL, LÁ, SI, DÓ, RÉ, FÁ
Modo mixolídio: SOL, LÁ, SI, DÓ, RÉ, MI, FÁ,SOL
Modo eólio ( escala natural menor): LA,SI,DÓ,RÉ,MI,FÁ,SOL,LÁ
Modo locrio: SI, DÓ,RÉ,MI,FA,SOL,LA,SI
O poder da música nas lendas
Mesmo que os escritos filosóficos e políticos não fossem adicionados para provar a importância da música para os gregos. As lendas antigas seriam suficientes para testemunhar o seu imenso poder (Mila, 1963, p.11).
Este poder da música é expresso na lenda de Orfeu que arrastava as pedras, as plantas e os animais com sua canção, ou na de Anfião, filho de Zeus, que construiu as paredes de Tebas com sua música. Ou ainda na história de Arion, que foi salvo da morte pelos golfinhos que foram evocados por sua canção. O poder que é dado à música pelos gregos não era apenas emocional, mas até mesmo de fascinação, paralisia ou excitação das faculdades volitivas. As artes literárias demonstram também esta importância dada à música. As grandes epopeias, supostamente escritas por Homero no século IX a.c, a Ilíada e a Odisseia, foram representadas sob a forma musical. Música e poesia foram estreitamente unidas na Grécia, Homero é representado como um cantor cego acompanhando-se de uma cítara, um Aedo que cantava suas histórias.
Música e filosofia Grega
Na filosofia a música é vista como expressão de um etos, chamada de “Doutrina do èthos”. Doutrina derivada do pensamento de Pitágoras, que concebe a música como sistema de sons e ritmo regido pelas mesmas leis matemáticas que operam na criação. Desde o início da organização social e política grega acreditava-se que a música influencia no humor e no espírito dos cidadãos. A música era vista com certa cautela, por esta atingir o estado de espírito das pessoas.
Nas cidades-estados, ela foi objeto de preocupação dos governantes, e a responsabilidade por sua organização e pela maneira como seria apresentada ao povo, estava nas mãos dos legisladores.
Para Platão a música ocupava uma posição de protagonismo em relação às outras artes, o propósito da música não podia ser apenas a diversão, mas “a educação harmoniosa, perfeição da alma a o aquietamento das paixões” (Lang, 1941, p13).
Pode-se dizer que Platão é o maior representante da concepção ética da música. Porém, em vez de estudar sua essência, ele estudou somente seu efeito, colocando o ensino da música sobre um terreno quase exclusivamente prático da educação moral e civil.
Confirmando essa visão prática e moral, Platão, em sua república, proibia o uso de algumas melodias, por essas despertar a sensualidade. Assim algumas escalas modais eram proibidas, dentre essas a escala mais visada era o modo lídio.
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